DE QUEM É A RESPONSABILIDADE DE ACIDENTES DEVIDO A PROBLEMAS ESTRUTURAIS?
Acidentes estruturais – no final de abril nos deparamos com uma notícia assustadora e que viralizou: um condomínio de luxo em Vila Velha, no Espírito Santo, passou por uma situação grave quando a piscina literalmente despencou, atingindo a garagem que se localiza abaixo dela. Felizmente o acidente não fez vítimas.
Após a queda e passado o susto, o síndico do Residencial Parador, Gilmar Assumpção, informou que os custos para a reconstrução da piscina alcançam o valor de mais de 1 milhão de reais, além dos outros prejuízos inerentes ao acidente, como os carros que foram afetados pela queda da estrutura, por exemplo.
A questão que fica quando esses tipos de acidentes ocorrem é saber de quem é a responsabilidade: da gestão como um todo, do síndico ou da construtora? A melhor resposta para essa pergunta é: depende. Isso porque essa é uma questão complexa no sentido de que, dependendo do tipo de acidente e como ele ocorreu, a responsabilidade pode variar.
Antes de tudo é importante saber que o condomínio edilício tem como representante o síndico. A ele cabe representar o condomínio ativa e passivamente, dentre outras atribuições legais (art. 1.348 do Código Civil), como o poder e dever de diligenciar e fazer guarda das áreas comuns (inciso V).
É relevante lembrar que o síndico é o responsável civil do condomínio. A responsabilidade civil tem o objetivo da reparação do prejuízo causado a terceiros, além do caráter punitivo da medida para que se evite que casos dessa ordem se repitam.
Isto posto, o condomínio somente responderá por um acidente caso decorrente de falta de manutenção da área ou ausência da sinalização, por exemplo. Assim, o dano decorre da ação omissiva do preposto do condomínio, recaindo a responsabilidade sobre todos os condôminos pelo ato de terceiro.
No caso de problemas ou acidente provenientes de ordem estrutural, os famosos vícios construtivos, é preciso que se tenha em mente que eles se referem aos vícios em função da solidez e segurança da obra. Nesse sentido eles têm garantia de cinco anos, desde que comunicados com 180 dias do aparecimento do vício (art. 168, CC). O prazo de garantia não pode ser confundido com a responsabilidade do construtor sobre a obra. O STJ entende que esta responsabilidade prescreve em 20 anos, quando se refere ao aparecimento de vícios e defeitos decorrentes da culpa do construtor, a qual precisará ser provada em juízo.
A partir disso, é preciso que cada caso seja analisado detidamente, pois os vícios construtivos, principalmente em casos de acidentes dessa ordem, dificilmente ocorrem de uma hora para outra. O desgaste assim como o agravamento dos defeitos devem ser observados por parte do síndico, tendo um engenheiro ao seu lado. Claro que muitas vezes essa questão não é possível de se observar “a olho nu”, o que faz com que fique muito difícil de o síndico poder constatar por si só esse problema previamente.
Porém, esse tipo de cuidado, focando na vistoria das áreas comuns, é papel fundamental que cabe ao síndico, pois é ele que tem o dever de cuidar e zelar pelas áreas comuns, como apontado anteriormente. Além disso, vale apontar que constitui condição da garantia do imóvel a correta manutenção preventiva da unidade e áreas comuns do condomínio.
Em relação ao caso concreto em comento, o edifício foi construído em 2018, estando dentro dos cinco anos de garantia. Nesse sentido, a construtora responderá civilmente, devendo arcar com toda reconstrução e indenização aos atingidos, caso seja constatado que o síndico fez o seu trabalho de forma correta, observando a manutenção das áreas comuns, e que sua atitude, como parece ter sido, não teve influência no acidente em questão.
Autor: Rodrigo Karpat – Advogado
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